quarta-feira, 8 de abril de 2009

Feliz Páscoa




Com o Domingo de Ramos começamos a Semana Santa. Somos convidados a contemplar o grande amor de Deus, que desceu ao nosso encontro, partilhou a nossa humanidade, fez-se homem, deixou-se matar pela nossa salvação. É uma oportunidade para reviver os mistérios centrais da Redenção. A Liturgia lembra DOIS FATOS: - A Entrada de Jesus em Jerusalém; - A Paixão de Nosso Senhor. Na 1ª parte, prevalece o clima de ALEGRIA: com a entrada de Jesus em Jerusalém montado sobre um jumento, à semelhança de um rei vitorioso. (Mt 11,1-10) Na 2ª parte, a abertura da Semana Santa, através das leituras bíblicas: - A 1ª Leitura apresenta a figura do "Servo Sofredor". (Is 50,4-7) Ele recebe a missão profética que se concretiza no sofrimento e na dor. Do aparente insucesso no sofrimento resulta o perdão do pecado do Povo. Os cristãos vêem neste "Servo" a figura de Jesus. - O Salmo 21 lembra as palavras mencionadas por Cristo na Cruz: "Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?" - A 2ª Leitura apresenta o exemplo de Cristo, que escolheu a obediência ao Pai e o serviço aos homens, até ao dom da vida. É o caminho de vida que a Palavra de Deus nos propõe. (Fl 2,6-11) - Nos Evangelhos, temos a dois momentos da vida de Cristo: - O Triunfo, com a entrada solene de Jesus em Jerusalém: O Povo reconhece que Jesus é o Salvador e o aclama alegre... - A Humilhação, com a leitura da Paixão de Jesus Cristo, segundo São Marcos. (Mc 14,1-15,47) Ao longo dessa semana santa, teremos a oportunidade de ler as quatro narrativas da Paixão. Cada uma com suas características e seus pormenores exclusivos. Desejo aprofundar com vocês aspectos específicos da narrativa de São Marcos, que acabamos de ler. É a primeira, a mais antiga (± 65 dC): a mais breve e dramática... É a que mantém uma ordem cronológica mais exata... + Introdução: Marcos introduz a narrativa com duas referências à CEIA: - A ceia de Betânia, na casa de Simão, na qual Jesus é ungido por uma mulher. O gesto generoso da Mulher contrasta com a atitude egoísta e traidora de Judas. - A Ceia Pascal com os discípulos. 1. Jesus mantém um SILÊNCIO solene e digno, aceitando o caminho da cruz. Não reage diante do beijo de Judas e ao gesto violento de Pedro. É a atitude de quem sabe que o Pai lhe confiou uma missão e está decidido a cumprir essa missão, custe o que custar. - No tribunal, quando acusado, Jesus manteve silêncio. Mas quando perguntado se era o Messias, reponde prontamente: "Sim, eu sou e vereis o Filho do Homem sentado à direita do Todo Poderoso vir sobre as nuvens do céu ", e só. Durante o processo: nenhuma palavra. Diante dos insultos, das provocações, das mentiras, ele fica calado. Estava consciente de sua inocência... e da farsa montada no julgamento. Por isso, não responde mais nada. Há situações na vida, nas quais não vale a pena responder... É melhor guardar o silêncio. * temos a mesma disponibilidade de Jesus para escutar os desafios de Deus e a mesma determinação de Jesus em concretizar esses desafios no mundo? 2. Jesus é o FILHO DE DEUS, que veio ao encontro dos homens para lhes apresentar uma proposta de Salvação. É o que Jesus responde ao Sumo Sacerdote: "Eu sou" e o que o Centurião afirma aos pés da cruz: "Verdadeiramente esse homem era Filho de Deus". É o ponto culminante da narrativa de Marcos, que no seu evangelho procura responder: "Quem é Jesus?" A resposta (a descoberta) não foi feita por um apóstolo, nem mesmo por um discípulo, mas por um pagão. 3. Jesus é também HOMEM e partilha da fragilidade e debilidade da natureza humana: Temos a tentação de imaginar Jesus como um super-homem. Mas ele não foi assim. A "angústia" e o "pavor" de Jesus diante da morte, o seu lamento pela solidão e pelo abandono, tornam-no muito "humano", muito mais próximo das nossas debilidades e fragilidades. Assim é mais fácil nos identificar com ele, confiar nele, segui-lo no seu caminho do amor e da entrega. A humanidade de Jesus nos mostra que o caminho da obediência ao Pai é um caminho possível a todos nós. * Marcos apresenta Jesus como nosso companheiro de sofrimento. Como nós, passou pela experiência de quanto é difícil obedecer ao Pai. Se o contemplarmos, sentimo-nos atraídos a segui-lo, porque o sentimos como um dos nossos. 4. Sublinha a Solidão de Cristo: Abandonado pelos discípulos, escarnecido pela multidão, condenado pelos líderes, torturado pelos soldados, Jesus percorre na solidão, no abandono, na indiferença de todos o seu caminho de morte. Só Marcos faz questão de sublinhar que Jesus se sentiu completamente só, abandonado por todos, até pelo Pai : "Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?" É a oração "humana" de quem sente e não compreende a aparente ausência e abandono de Deus. * A solidão de Jesus diante do sofrimento e da morte anuncia já a solidão do discípulo que percorre o caminho da cruz. Quando o discípulo procura cumprir o projeto de Deus, recusa os valores do mundo, enfrenta as forças da opressão e da morte, recebe a indiferença e o desprezo do mundo e tem de percorrer o seu caminho na mais dramática solidão. O caminho da cruz, apesar de difícil, doloroso e solitário, não é um caminho de fracasso e de morte, mas de libertação e de vida plena. 5. Fato curioso, exclusivo de Marcos: Um jovem o seguia, coberto somente de um lençol. Quando os soldados tentaram agarrá-lo, livrou-se da roupa e fugiu despido... É possível que esse jovem fosse o próprio Marcos. * Foi a atitude dos discípulos que, desiludidos e amedrontados, largaram tudo, quando viram o seu líder preso e fugiram sem olhar para trás. 6. Atitude "corajosa" de José de Arimatéia em pedir a autorização para sepultar Jesus diante da autoridade que o condenou. - Declarar-se discípulo de Jesus, quando as multidões o aclamam, é muito fácil, somente uma pessoa corajosa é capaz de apresentar-se como seu amigo diante da autoridade que o condenou. * Quantas pessoas, enquanto residem em suas pequenas cidades, ou capelas, nunca faltam na igreja... mas depois quando vão para a cidade grande estudar, ou quando emigram para trabalhar longe do próprio ambiente familiar, sentem vergonha de sua fé ou preguiça em participar. 8. "ABBA", Pai: Essa palavra, que quer dizer carinhosamente: "Papai", não é citada nos outros evangelhos, somente Marcos a coloca nos lábios de Jesus, exatamente na hora mais dramática da sua vida, quando depois de ter pedido ao Pai de poupá-lo de uma prova tão difícil, se abandona, confiante, nas suas mãos. * O Exemplo de Jesus nos ensina que, em qualquer circunstância da vida, nunca podemos esquecer ou duvidar do amor do nosso "Abba" Os RAMOS, que carregamos com alegria e entusiasmo na procissão e que levamos com devoção para nossas casas, são o sinal de um povo, que aclama o seu Rei e o reconhece como Senhor que salva e liberta. Devem ser o Sinal do compromisso de quem deseja viver intensamente essa Semana Santa. - Não basta apenas aclamar o Cristo em momentos de entusiasmo e depois crucificá-lo na rotina de todos os dias. - Que o Lava-pés nos motive a limpar o coração com a água purificadora da Penitência e a nos pôr a serviço dos irmãos. - Que a Ceia do Senhor nos faça valorizar a presença permanente de Cristo em nosso meio e seja o alimento constante em nossa caminhada. - Que o Getsêmani nos anime a fazer a vontade do Pai, mesmo pelos caminhos do sofrimento e da cruz. - Que o Túmulo silencioso seja o nosso "deserto" para escutar mais forte a voz de Deus e um estímulo para remover todas as pedras que mantém ainda trancado o Cristo dentro do túmulo do nosso coração. - Que a Vigília Pascal reanime nossa Esperança nas promessas do Senhor, enquanto aguardamos a sua vinda. - Assim essa Semana será realmente santa e a Páscoa acontecerá em cada um de nós. Cristo realmente venceu as trevas do pecado e da morte. Aleluia! Pe. Antônio Geraldo Dalla Costa - 05,04.2009

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